Texto: Elidio Jr (Folia Carioca)
Sim… Vivemos em um país democrático… Mas muitas vezes, na verdade, na maioria das vezes, as críticas são muito mal recebidas e geram consequências não muito favoráveis aos autores das mesmas… E não seria diferente com as Escolas de samba e seus carnavalescos. Nem todos possuem a genialidade criativa trabalhando em função de um discurso já consagrado e aprovado.
Sim… Vivemos em um país democrático… Mas muitas vezes, na verdade, na maioria das vezes, as críticas são muito mal recebidas e geram consequências não muito favoráveis aos autores das mesmas… E não seria diferente com as Escolas de samba e seus carnavalescos. Nem todos possuem a genialidade criativa trabalhando em função de um discurso já consagrado e aprovado.
Muita gente já foi prejudicada por seu discurso ácido, irônico…
Bem, não confundamos ironia com humor… Houve diversos desfiles pra lá de bem-humorados, leves, brincalhões… Mas adotar um discurso crítico é outra coisa… Algumas escolas marcaram época com essa característica… Chegaram a construir uma identidade… Pena que se perderam, não conseguindo manter o ‘nariz empinado’. Tudo bem que o período mais fértil nesse viés foi de meados dos anos 70 e anos 80. Coincidentemente enfraquecimento e fim da ditadura e início do processo de redemocratização. Hoje em dia, com carnavais vendidos a poderosos patrocinadores, este tipo de enredo não tem mais lugar. Imaginem só!… Se uma cervejaria patrocina um desfile, como a escola pode ‘brincar’ com a droga-álcool?… Claro que falará do famoso ‘se beber não dirija’… Mas isso é pensamento crítico ou reprodução do discurso oficial?… Essas críticas que vemos hoje são realmente válidas ou são aqueles lugares-comum de todo dia?
Mas voltemos… Império Serrano, Caprichosos de Pilares e São Clemente… Algumas obras primas de crítica desfilaram sob suas bandeiras… Não dá para esquecer que tem bumbum de fora pra chuchu na área do bumbum paticumbum prugurudum. Um samba que prega que quem é pobre está com fome e quem é rico está com medo… De quê? A força de um canto que brada que Brasil com Z jamais… Passagens inesquecíveis para os admiradores do samba crítica…
Mas há (será que ainda há???) uma gigante na arte do enredo crítico… As outras até o fazem ou fizeram, mas não a ponto de construir e marcar a identidade de uma agremiação como no caso da São Clemente. Lembremos alguns sambas…
“Pequenino, triste feito um cão sem dono,
Tão cansado de viver e sofrer
Por aí perambulando
Não teve sorte
Seu berço não foi de ouro,
Seu pai não teve tesouro
É triste sua vida a vagar
Seu moço, dê-me um trocado!
Eu quero comer um pão!
Sou menor abandonado
Neste mundo de ilusão”
(Capitães de Asfalto, 1987: Izaías de Paula, Jorge Moreira e Manuelzinho Poeta)
“A cobra vai fumar
De além mar, ao mar de lama
Gostoso é pecar, se lambuzar no mel da cana
Índias que não estão no mapa
Na boquinha da garrafa, cheias de amor prá dar
O tal Batavo começou avacalhar
E como brasileiro gosta de uma obra
Nassau fez até de sobra
Mascarando o Leão, do Norte, lugarejo sem saúde
Onde a maior virtude era viver de armação
Macunaíma, anti herói idolatrado
Aqui tudo foi tramado, pra virar esculhambação”
(Boi Voador sobre o Recife: O Cordel da Galhofa Nacional, 2004: César Ouro, Jorge Melodia, Marcos Zero e Noronha)
“Nasci com a nobreza
Na pobreza me criei
Andei, andei (Mais eu andei)
E aqui cheguei
Hoje mostro na Avenida
Quem foge, nesta vida, de aluguel
Trago chave de cadeia
E os prazeres de motel
Quem casa, quer casa!
Eu não tenho onde morar
Vou viver como índio,
Até melhorar”
(Quem Casa, Quer Casa, 1985: Helinho 107, Izaías de Paula e Rodrigo)
E MEU HINO NESTE SENTIDO É… 1986!!!
Se você chegou até aqui… Por favor… Leia com atenção… Desta vez a composição completa! Claro… Considere a conjuntura da época (Se não sabe do que falo, vale uma pesquisada pela internet…rs).
Desperta, Brasil,
Desse coma entre vorazes tubarões
Vindos por terra ou por mares,
Poluindo nossos ares, explorando nosso chão,
Impondo ordens em receitas estrangeiras,
No açoito das saúvas brasileiras,
De Norte a Sul, brasilinvest, por aí,
E outros males como o F.M.I
Mate a saúva antes dela te matar!
O peso é muito para um morto carregar
Pouca saúde e pouca grana pra gastar:
- Oh, seu ministro, onde a coisa vai parar?
Oh, que tristeza, a realidade brasileira!
A malária, que era só do Norte,
No Sudeste chegou forte, correu a nação inteira
O arlequim ficou biruta e ri a toa
Da colombina, tão bonita e tão sacana,
Dona de um banco de sangue tão bacana,
Que deixou o pierrot descascando uma banana
Fila pra cá, briga pra lá,
Pra marcar a hora certa do defunto desfilar!
Mas que saudade
Dos tempos idos que não voltam mais
Vovó, quando doente, era curada
Com elixir, biotônico e outros chás
Jeca tatu, tão doente e explorado
Espera a salvação chegar,
Mas a diligência da saúde
Vem puxada por saúvas,
Que a nova república deu fim… No Delfim
Ai de mim
É AIDS sim!
Paetês e silicones desfilando por ai
E os meus direitos humanos
A São Clemente cobra na Sapucaí
(Pouca Saúde, Muita Saúva. Os Males do Brasil são, 1986: Helinho 107, Mais Velho e Nino)
Sem mais e cheio de saudades de sambas como os supracitados…
Até a próxima, Elidio Jr.
É proibido proibir !!!
Reviewed by Joseclei Nunes
on
05:27
Rating:

Nenhum comentário: